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Excessos e negligências médicas causam prejuízo para pacientes e déficit orçamentário para hospitais

Os benefícios do avanço tecnológico no contexto dos exames complementares para a saúde são inegáveis, mas raramente suas consequências negativas são abordadas. No 53º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, o Dr. André Volschan, cardiologista e coordenador de ensino e pesquisa do Hospital Pró-Cardíaco, e o Dr. Wilson Shcolnik, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), aceitaram o desafio de 

lançar um olhar crítico sobre o outro lado da tecnologia médica, ao falarem sobre os conceitos de overuse (quando um tratamento é utilizado sem embasamento médico consistente ou oferece mais riscos do que benefícios ao paciente) e underuse (quando o tratamento não está sendo subutilizado ou não está sendo utilizado).

É cada vez mais comum encontrar exames capazes de rastrear doenças em pessoas que sequer apresentaram sintomas. A possibilidade de antecipar os problemas de saúde sob a justificativa de maior chance de cura pode levar ao diagnóstico prescindível.

O estudo apresentado pelo Dr. André mostra que isso ocorre com frequência nas doenças oncológicas. Para o cardiologista, "o impacto de um diagnóstico precoce no prolongamento da vida não é uma equação tão exata assim", mas ele afirmou que existem subgrupos dentro das doenças que necessitam de atenção real.

Durante a apresentação, o cardiologista exibiu um artigo publicado no periódico JAMA que questiona a eficácia da implantação de stent para evitar complicações cardíacas. O estudo não encontrou nenhuma evidência científica de que o dispositivo pudesse trazer benefício maior que outras terapias, mais tradicionais e menos invasivas, em pacientes estáveis com doença coronariana. Outra pesquisa, também publicada no periódico JAMA, analisou 10 anos de dados ambulatoriais norte-americanos e mostrou resultados alarmantes: apenas dois dos 11 indicadores de overuse apresentaram queda. Essa tendência de solicitar exames em excesso, muitas vezes sem embasamento clínico, gera um prejuízo orçamentário para os hospitais. Ainda segundo a pesquisa, dos 700 bilhões de dólares que são desperdiçados todos os anos na área médica, 280 bilhões têm como causa o overuse.

Para entender melhor os motivos desse aumento de diagnósticos e tratamentos prescindíveis, o Dr. André mencionou outro artigo, que apresenta seis fatores que contribuíram para o surgimento do overuse na medicina: (1) falta do exercício da dúvida na formação médica;  modelo de remuneração; aumento da judicialização na área da saúde; preferência do paciente pela tecnologia; (5) percepção de que mais exames e tratamentos são equivalentes a um cuidado melhor; (6) marketing das indústrias da área da saúde voltado diretamente ao consumidor. 

 

Um trabalho publicado no periódico Annals of Internal Medicine revelou que um em cada três médicos solicita exames e realiza procedimentos porque os pacientes pediram mesmo sabendo que não são necessários.

Para o Dr. André, os exames complementares são importantes, mas não podem se sobrepor ao olhar do médico. O cardiologista afirmou também que a intuição médica – desenvolvida a partir da experiência – está sendo esquecida, e muitos profissionais não têm mais tolerância para a incerteza nos quadros clínicos.

"O modo de produção por quantidade já passou, agora é qualidade", disse. Além do desperdício da verba hospitalar, o próprio paciente pode sofrer com os efeitos colaterais de tratamentos desnecessários. Até danos psicológicos podem ser observados, por exemplo, quando a doença carrega um estigma ou o paciente fica exposto a uma percepção de vulnerabilidade.

Fonte: medscape

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